terça-feira, 24 de julho de 2012

Galileu Galilei

GALILEU GALILEI

Galileu Galilei: Nascimento e Amadurecimento da Ciência (I de III)

Uma das obras mais importantes, conhecidas e citadas de Galileu Galilei é "Diálogo sobre os dois máximos sistemas do mundo" de 1632. Porém seu primeiro escrito é "Diálogo de Cecco di Ronchitti da Bruzene a propósito da nova estrela" de 1605, assinado pelo discípulo Girolamo Spinelli, mas muito provavelmente com a íntima orientação da pena galileana.

Tratava-se da discussão sobre o surgimento de uma estrela com luminosidade variável, o que segundo os filósofos era provocado por fenômenos meteorológicos não relevantes. Mas a medição astronômica que produz os chamados "malditos dados" mostrou que esta nova luz não se deslocava em relação às outras, e que, portanto deveria ser uma verdadeira estrela.



Ofendidos os filósofos não aceitaram a tese de Galileu. Aliás, Galileu Quem? Então com 40 anos, era apenas um "medidor" do céu na Universidade de Pádua; e que história era esta de se meter em questões de essência, exclusiva de filósofos desde Aristóteles? A astronomia era uma disciplina matemática (junto com a geometria, aritmética e a música) e dissertar sobre as essências das estruturas era reserva de mercado dos filósofos.

O respeito quase infinito da autoridade era, digamos, um preconceito de época. Cem anos antes, por exemplo, as aulas de Anatomia eram ainda feitas sem mexer nos cadáveres (apesar da permissão da igreja para isso), mas apenas com a leitura dos textos de eruditos.



Em Cambridge o matemático Todhunter objetou quando da estruturação do primeiro laboratório da universidade: "Pra quê, os estudantes precisam ver e fazer os experimentos? Os resultados podem simplesmente ser descritos pelos professores cultos, ilibados e cristãos". Pobre Todhunter, nem sabe, mas fez escola entre os gestores da educação brasileira, que têm horror a laboratórios (por causa menos nobres, diga-se de passagem….).

Felizmente na época de Galileu a Anatomia já havia mudado, tendo inclusive servido de exemplo, como campo de conhecimento que havia progredido por ter "saído do papel".

E então Galileu mostrou-se por inteiro: se os experimentos e os dados não confirmam a teoria, dane-se a teoria. Pra saber quantos dentes tem um cavalo é melhor abrir-lhe a boca e contá-los, do que discutir um tratado de PhDeuses sobre a prótese cavalar.

Tendo bebido na fonte de seu professor de geometria Francesco Buonamici que insistia na primazia da experiência sobre a autoridade, Galileu (Spinelli) alfinetou no diálogo de 1605, que se o "matemático demonstrar que se trata de uma estrela, então, toda a filosofia natural é uma grande piada".

Assim, a supremacia da linguagem rigorosa e exata sobre a imprecisa linguagem comum ou o "grasnar dos empolados corvos-acadêmicos" (nas palavras de André Vesálio, o maior anatomista da época) para a explicação dos fenômenos naturais já era clarividente para Galileu, e os filósofos "deveriam agradecer a quem lhes mostra a verdade", no caso, todas as modéstias à parte, ele mesmo.



Neste sentido, apesar de seu salutar apego aos fatos, o uso do "mundo de papel" foi fundamental para os estudos de Galileu: uma esfera perfeita, num plano perfeito submetida a uma força infinitesimal, se movimentará indefinidamente. Sem conseguir fazer experimentos no vácuo, restava ao cientista o consolo de, através da abstração dos cálculos, aproximar-se da verdade e tentar melhorar os instrumentos de observação. Assim como em jornalismo não há fato sem versão, na ciência não há dado sem imaginação e interpretação.

Em 1610, Galileu publica o livro "A mensagem das estrelas" (este sim assinado por ele mesmo), que continha importantes descobertas feitas com o telescópio, que apesar de já inventado por outros, nunca tinha sido tão bem usado. Galileu viu e desenhou a irregular superfície lunar_ que até então era considerada perfeita_ as diferentes posições das estrelas (satélites) de Júpiter e ainda mostrou que a via Láctea não era somente uma nebulosidade esbranquiçada (leitosa), mas sim uma "incrível massa de outras estrelas, invisíveis a olho nu e tão numerosa que quase não podemos acreditar".


Galileu, o cético cientista, provou que o céu era infinito liberando-o, então, para o delírio dos poetas enamorados. É de se espantar que Bertrand Russel, o renomado intelectual inglês do século XX e conhecedor da obra daquele que considerava o último italiano digno de nota (Galileu), caísse na retórica superficial que a ciência sempre mata a poesia, pois para ele nada mais ridículo que um "poeta dizer-se alado para ir de encontro a amada quanto muito mais fácil seria usar um avião". Galileu, o primeiro pesquisador na acepção moderna da palavra, foi muito mais um libertador da imaginação do que um castrador dos delicados artesãos das palavras.

Como já valia o mote: "publique ou pereça", este livro fez fama à Galileu que, então mudou-se para Florença (não perca o próximo episódio).

Veja também:

Galileu Galilei – Enxergando bem além do seu tempo (II de III)

Galileu Galilei: Liberdade ainda que tardia (III de III)


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